Sunday, January 29, 2006

Munique-Teerão

Aqui se segue pois uma versão mais organizada e moderada, mais sensata e profunda, da minha opinião sobre a crise iraniana. Trata-se da crónica a sair no Jornal da Mealhada desta quarta-feira, dia 1 de Fevereiro. Não se pretenda ler no meu gesto o plano de transformar este blog em mais um blog para expôr as minhas crónicas - longe disso: tenho um para tal efeito e é o suficiente. Se aqui exponho foi porque foi a necessidade de vir comentar o crise iraniana ao blog me suscitou a ideia de escrever a crónica, que, por maioria de razão - com mais tempo e mais trabalho - acabou por ficar bem melhor do que a minha intervenção original aqui. Para repôr o signo de qualidade do nosso blog, venho aqui coprrigir-me: e viva o Novo Hotel Central!

Amanhã estreia Munique, o novo filme de Spielberg, sobre a retaliação israelita após o sequestro, por palestinianos, da sua comitiva olímpica em Munique, em 1972. O espectro da vingança perpetuada por democracias ocidentais é tanto mais válido como tema de discussão se atentarmos nas recentes declarações de Chirac, defendendo o uso de armas nucleares para "a segurança dos nossos abastecimentos estratégicos" e como meio de dissuasão para “os dirigentes de Estados que utilizem meios terroristas, assim como aqueles que tencionem usar armas de destruição maciça”.

Se a proposta francesa força as fronteiras da razão, entrando no delírio, levanta, contudo, a mesma questão da fita de Spielberg: haverá um dever do bem de aniquilar, violentamente se preciso, o mal? Maniqueísta, a pergunta é dúbia, pois implica sempre uma definição de herói e de vilão. E se para o Ocidente o inimigo é o fanatismo muçulmano, para este, o Grande Satã é América e Israel. Elucidativas a este propósito são as afirmações de Ahmadinejad, presidente do Irão, que considera o estado judaico “tumor maligno a riscar do mapa”, congratula-se pelo coma de Sharon, apelida de “mito” o Holocausto e sugere a transferência de Israel para a Europa.

Estas opiniões ganham tanta mais relevância quando o programa de enriquecimento de urânio foi, aquando da eleição de Ahmadinejad, retomado. A actual crise iraniana começa a atingir cumes insuportáveis, com o claro desprezo do Irão pela Agência Internacional de Energia Atómica e a própria ONU. O acesso à energia nuclear por um tal fanático não é, por certo, com fins pacíficos, antes com o intuito de agressão ao Ocidente.

O Irão terá de/será atacado. Segundo país no «Eixo do Mal» de Bush, o ataque ao Irão é uma possibilidade remota neste momento, não obstante a necessidade que se lhe possa reconhecer. Só há três forças que poderiam comandar uma ofensiva e nenhuma agirá tão rapidamente. Israel encontra-se num clima de incerteza que não se dissolverá senão em finais de Março, quando for eleito um novo governo. Os EUA estão imobilizados: as suas tropas estão demasiado dispersas e as campanhas de recruta angariam cada vez menos jovens. Só com o abandono total do Afeganistão e do Iraque é que uma tal acção militar poderia começar a ser ponderada. Em termos de opinião pública, a América sofre do problema de Pedro e o Lobo: tendo mentido aquando do Iraque, agora, ainda que as razões sejam justas e acertadas, ninguém acreditará. A Europa, essa, nunca avançará sem os EUA, se bem que se coligará efectivamente – não como aquando do Iraque – com eles.

Porém, uma tal intervenção bélica poderia não redundar nos efeitos desejados. Os regimes islâmicos radicalizaram-se, tanto em Agosto com a eleição de Ahmadinejad, como na semana passada com a vitória expressiva do Hamas na Palestina. A violência no Iraque persiste – o plano para o Médio Oriente parece estar redundantemente a falhar. Um ataque-relâmpago, o suficiente para resolver a crise a curto prazo, obrigaria a um segundo ataque dos EUA, posteriormente, tal como aconteceu após a incompleta primeira guerra do Golfo. Porém, um mero ataque aéreo às fábricas atómicas poderia desencadear uma resposta violenta, como o confirmou um Guarda da Revolução: “Se formos alvo de um ataque militar, usaremos a nossa muito eficiente defesa de mísseis”. O Irão podia avançar com uma invasão do Iraque, gozando do apoio da maioria xiita iraquiana – ou, pior, atirar-se a Israel. Eis a nova Guerra Fria: passada nos desertos, quente como eles.

Valete, Fratres!

Friday, January 27, 2006

Iran... You're Next!

Não podia mais adiar um comentário sobre a crise iraniana, que, inderectamente se agrava, com a crise palestiniana, agora que o Hamas venceu por maioria absoluta ontem as legislativas. Na realidade, o Médio Oriente, de novo - não deverá dizer-se: sempre? - requere a nossa atenção, comunidade ocidental.
Quando isto aqui escrevo, ainda não li o dossier de artigos que tenho vindo a cumular sobre Teerão, desde as célebres declarações do seu presidente de que Israel devia ser banida do mapa, até ao seu cepticismo relativamente à ocorrência da Shoah, passando pela proposta absurda de uma Israel na Europa. Por isso, o artigo que aqui escrevo é mero aquecimento para um mais detalhado que, inclusivé como crónica, pretendo publicar depois. Não obstante, as ideias base podem já ser expostas com suficiente clareza.
O poder no Médio Oriente encontra-se mais equlibrado, queremos acreditar. O Afeganistão e o Iraque encontram-se, ainda que periclitantemente, nas mãos dos EUA. Porém, Teerão reforçou o seu radicalismo, a Palestina, desde ontem, também, e Israel encontra-se acamada na pessoa de Sharon.
A minha tese é que o Irão deve ser atacado. Eu era o último a considerar-me o primeiro. Nunca imaginei, nos meus piores pesadelos, que seria o primeiro a defender uma invasão do Irão. De facto, com essa terminologia, sou contra: não defendo a invasão, somente a liquidação das bases nucleares e duma série de outros pontos estratégicos iranianos. Uma cópia da Guerra dos Seis Dias: rápida e eficaz.
Porém, um tal ataque vai ser deveras problemático. Eis os problemas:
1. Os EUA não estão com capacidade de mobilização de tropas: todos os militares são poucos no Iraque (apesar da retirada já ter começado) e há uma determinante oposição sociológica a uma nova guerra. Aqui temos um exemplo prático do Pedro e do Lobo: tendo mentido aquando do Iraque, os EUA não podem esperar que as pessoas acreditem de novo neles, mesmo se, como Pedro à terceira vez, eles agora tenham razão.
2. O Irão faz fronteira com o Iraque. Um ataque ao Irão conduziria, por parte deste, a uma invasão do Iraque: e, aí, as coisas estariam longe da eficácia limpa aérea duma nova Guerra dos Seis Dias. Os inexistentes exércitos de Saddam Hussein aquando de Bagdag seriam então os bem palpáveis exércitos do maluco que governa em Teerão. E, mais uma vez, os americanos não se podem dar ao luxo de uma nova guerra.
3. A Palestina, agora radicalizada, sabendo que os EUA se recusam a negociar coim o seu governo (posição insensata!), não hesitarão em recrudescer a Intifada, num momento em que Israel está politicamente fraca.
Resumindo, um ataque ao Irão podia provocar uma feia situação bélica no Médio Oriente que não solucionaria, ainda assim, o seu problema base: a existência do Estado de Israel. Porém, parece-me inevitável que, a ao ser feito nada, algo acontecerá - e grave: o homem em Teerão é muito mais perigoso que Saaddam Hussein, um mero ditador local que tinha umas ideias expansionistas, mas estava longe de ser uma peça no xadrez complexo da guerra de civilizações e ideologias. O homem de Teerão é-o. E recusam ser vigiados pela ONU (não deixam que a sua questão vá ao Conselho de Segurança).
Há que os atacar - simplesmente, não agora. Eles não ficarão com uma bomba nuclear de um dia para o outro. Há que esperar, ter paciência, ver como se desenvolve o caso... E esse tempo será o suficiente para que a situação se altere para os americanos e israelitas e comunidade ocidental (nomeadamente com a saída de Chirac, esse palerma que me vem falar do uso de bombas nucleras contra os terroristas...).

Reservo-me ao direito de mudar de opinião após ler o dossier que tenho em espera e ante novos desenvolvimentos da situação - o que aqui escrevi foi e é um juízo provisório com base nos dados que disponho actualmente.

Valete, Fratres

Sunday, January 22, 2006

Comoedia Finita Est

E pronto. Estou neste momento a acompanhar os resultados reais, pelo site do STAPE, e tudo se parece confirmar: 50, 84% para Cavaco; 20,70% para Alegre; 14,09% para Soares; 8,69% para Jerónimo; 5,25% para Louçã e 0,43% para Garcia Pereira. Tudo bastante dentro dos limites do que eu calculara.
O que podemos aprender daqui? Nada de novo que já não se tivesse dito: o messianismo cavaquista triunfou (pelo menos, pela leitura periclitante - a ver em que ficamos - que se pode fazer agora), o alegrismo nacionalista e independente revelou na sua plenitude "o poder dos cidadãos" e Soares veio confirmar a crise do PS, que já era anunciada quando um partido não tem senão o seu fundador, que já detivera o cargo dois mandatos seguidos, para avançar para esta corrida. A divisão fica vincada com estes resultados: ficou claro de que as eleições internas do PS que elegeram Sócrates deixaram marcas e fissuras no tecido partidário. Muitos analistas quiseram ver naquela imagem de Soares a ajudar Sócrates em canadianas a descer do palco a metáfora de como Soares acabaria por ser a força mortiz por baixo da derrocada do actual primeiro-ministro. Não se compreende como é que Sócrates apostou num candidato assim, como se quase desejasse que Cavaco obtivesse o cargo - o que, a meu ver, só dever-lhe-ia ser indesejável. A prova de que o PS estava mais que ciente da sua missão fracassada foi quando a meio da campanha promoveu a desistência dos outros candidatos à esquerda - era sinal de que de facto, por si, Soares não triunfava.
Alegre, esse é perdedor e vencedor. De um lado, é incrível a forma como mostrou que os cidadãos, não apoiados por partidos, podem concorrer. Os partidos imiscuídos nas presidenciais sempre foi algo que me desagradou - na realidade, os partidos, na sua forma de ser actual, desagradam-me de qualquer maneira (não se leia aqui incentivos à criação de um partido único: isso seria, ainda assim, um partido, logo eu não o posso estar a defender. É uma questão mais complexa que me arrependo de ter invocado para aqui, já que desviará as atenções da questão central: presidenciais). Alegre, porém, perdeu porque não foi a uma segunda volta e porque doravante nem todos o olharão com respeito dentro do PS - dor de cotovelo é atroz. Nalguns lados, na Beira, que eu conheço bem, chamam-lhe "amor de sogra". O PS é forçado a admitir - e, com ele, tu, que não inteligivelmente recusaste esse argumento que é meramente lógico, independente de qualquer vontade, objectivo ao extremo - que Alegre era o candidato mais bem colocado para congregar em seu torno os socialistas e esquerda em geral. Tudo começou mal para Sócrates desde que ele "traiu" Alegre - permiti-me a expressão. E deste ponto de vista, Alegre é capaz de ser um vencedor ainda maior que Cavaco.
Na realidade, o garnde derrotado é o PS e a figura que o encarna: Soares. Na primeira ou segunda reacção da sede soarista que as televisões transmitiram, um socialista apoiante de Soares começava já a lançar as suas farpas contra Sócrates, acusando-o de todo o mal. Começa assim a traçar-se o caminho para o golpe: Sócrates perderá as próximas eleições legislativas. Muitos temem até que ele caia ainda antes de chegarmos a esse termo. Improvável, mas não descarto de todo a hipótese - e não, não é porque Cavaco chegou agora a Presidente, mas sim porque Sócrates é mais prudente que Santana e só muito azar congregado poderia levar a gigantescas mobilizações contra o governo. Mas estamos a ler tudo já demasiado na esfera do poder executivo.

Feita uma primeira análise dos resultados, que poderei vir a rever e ampliar noutro post, segue-se agora a resposta aos teus argumentos:
1. Como vês, as sondagens eram mais do que verídicas e não adulteradas - se tivesses por um momento pensado racionalmente, ter-te-ias apercebido de que uma teoria da conspiração contra Soares era algo inconcebível. Se alguma sondagem errou, parece-me claro que foi as que tu invocaste.
2. "E não só! A candidatura de Manuel Alegre, posso estar muito enganado (ou então, não) mas não foi mais do que uma manobra de vingança contra Sócrates."
Não concordo nem desminto. É-o e não o é ao mesmo tempo. Quando Alegre o propôs pela primeira vez, não era, de modo algum, vingança. Sócrates estava no poder, ele poderia almejar poder também, mas noutro cargo, Presidente da República, mas longe de ter intentos de demitir Sócrates. Porém, quando Sócrates o rejeitou depois de o ter apoiado e se virou para Soares, aí, na persistência da sua candidatura, vejo já um certo toque de vingança - que, os resultado o confirmam, era uma vingança justa: Alegre tinha razão quando se afirmava o melhor para congregar o povo de esquerda: os números não me permitem mentir. Porém, considerar a sua candidatura exclusivamente vingança parece-me uma deturpação da realidade.
3. "Tens que admitir que Alegre se ia sentir nas suas sete quintas, tendo o poder para demitir Sócrates, ao primeiro erro que este fizesse."
Ora aqui é que tu denunciaste tudo. Porquê ser contra Cavaco, porquê contra Alegre, contra os outros candidatos? Porque só Soares dava a garantia absoluta de que não iria demitir o governo que o apoiou. E isso foi triste na campanha, porque se percebia que havia uma relação óbvia e promíscua entre Governo e candidato Soares, em que um protegia o outro. Foi uma candidatura, em parte - não na totalidade, obviamente - defensiva, isso prejudicou-a.

Assim sendo, espero agora as tuas reacções aos resultados, lamentando ter de ter um hóspede tão cabisbaixo... Nesse aspecto, o voto em branco é saudável: sabes a priori que não ganharás - não acalentas esperanças vãs... Já agora, o voto em branco, neste momento, pelo STAPE, já chegou aos 1,05% e o nulo aos 0,79%. Boas notícias para os meus.

Thursday, January 19, 2006

Os Meus Riscos

"Não me venhas tu com essa história das sondagens porque, se elas deram QUASE todas a vitória ao sr. Silva pelos mesmos valores, é normal que essas tenham sido todas adulteradas."

1. Gostaria de saber que sondagens não deram a vitória a Cavaco. Obviamento admito a possibilidade da existência de algumas (não leio todos os jornais) mas se pudesses indicar nomes em concreto, agradeceria.
2. O RISCO:
Em vez de argumentar para provar a opinião, aguardo os factos. Assim, para comprovar o que digo, espararei - e convido-te a esperar - pelos resultados de Domingo. Nesse dia confirmarei o que tenho vindo a afirmar e assumo o risco de isso não acontecer. Dever-se-á, porém, para tal efeito, considerar as sondagens mais recentes.

"Aqui vês como só interessa à Esquerda derrotar Cavaco. E Alegre foi dividir os votos, afastando eleitores de Soares, que era a maior esperança da Esquerda, contra Cavaco."

3. O RISCO 2:
Em vez de argumentar para provar a opinião, aguardo os factos. Assim, para comprovar o que digo, esperarei - e convido-te a esperar - pelso resultados de Domingo. Nesse dia confirmarei o que tenho vindo a afirmar e assumo o risco de isso não acontecer. Parece-me lógico que, dependendo de qual das candidatos de esquerda fique em primeiro lugar, esse era o que melhores condições reunia para agrupar o dito eleitorado de esquerda.

Valete, Fratres

Monday, January 16, 2006

A Maria Merece!

Este é um mail que me chegou hoje e denuncia uma situação perfeitamente verginhosa, típica dos nosso governos (PS/PSD) e que o governo PS, mais uma vez, repete. E depois, façam-me acreditar que não são todos iguais...

"É este o país e o governo que temos:
De acordo com O Correio da Manhã, Maria Monteiro, filha do antigo ministro António Monteiro e que actualmente ocupa o cargo de adjunta do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros vai para a embaixada portuguesa em Londres.
Para que a mudança fosse possível, José Sócrates e o ministro das Finanças descongelaram a título excepcional uma contratação de pessoal especializado.
Contactado pelo jornal, o porta-voz Carneiro Jacinto explicou que a contratação de Maria Monteiro já tinha sido decidida antes do anúncio da redução para metade dos conselheiros e adidos das embaixadas.
As medidas de contenção avançadas pelo actual governo, nomeadamente o congelamento das progressões na função pública, começam a dar frutos.
Os sacrifícios pedidos aos portugueses permitem assegurar a carreira desta jovem de 28 anos que, apesar da idade, já conseguiu, por mérito próprio e com uma carreira construída a pulso, atingir um nível de rendimento mensal superior a 9000 euros.
É desta forma que se cala a boca a muita gente que não acredita nas potencialidades do nosso país, os zangados da vida que só sabem criticar a juventude, ponham os olhos nesta miúda.
A título de curiosidade, o salário mensal da nossa nova adida de imprensa da embaixada de Londres daria para pagar as progressões de 193 técnicos superiores de 2ª classe, de 290 Técnicos de 2ª classe ou de 290 Assistentes Administrativos.
O mesmo salário daria para pagar os salários de, respectivamente, 7, 10 e 14 jovens como a Maria, das categorias acima mencionadas, que poderiam muito bem despedir-se, por força de imperativos orçamentais.
Estes jovens sem berço, que ao contrário da Maria tiveram que submeter-se a concurso, também ao contrário da Maria já estão habituados a ganhar pouco e devem habituar-se a ser competitivos.

A nossa Maria merece.

Também a título de exemplo, seriam necessários os descontos de IRS de 92 portugueses com um salário de 500 Euros a descontar à taxa de 20%.

Novamente, a nossa Maria merece."

Valete, Fratres

Sunday, January 15, 2006

O Caso Alegre

Na impossibilidade de responder na totalidade ao teu último post, por manifesta falta de tempo (infelizmente, isto será um comportamento comum, mas que tentarei, sempre que possível, amenizar), aqui venho pois só responder ao teu parágrafo sobre o Alegre.

"Fugiu da Guerra! Fugiu! Qual preso pela PIDE e recambiado? Ele nem nunca viu uma prisão!"

"While studying law at the University of Coimbra, Alegre became opposed to António de Oliveira Salazar's dictatorial government. He was conscripted, and sent to the Azores and later to Angola, where his involvement in an attempt to military rebellion led him to jail. After serving his term in Luanda, he returned to Coimbra, before going into exile in 1964."
Fonte: Wikipedia, versão inglesa [negritos meus, as hiperligações pertencem ao artigo original]

"Cumpriu o serviço militar na guerra colonial em Angola. Nessa altura, foi preso pela polícia política (PIDE) por se revoltar contra a guerra."

Fonte: Intituto Camões Portugal, http://www.instituto-camoes.pt/cvc/poemasemana/05/01.html

Parece que o teu "fugir da guerra" se revela ser antes liderar um revolta contra a guerra colonial - algo de todo diferente. O que ele fez foi positivo.
Espero que perante estes dados independentes (é o Instituto Camões!) revejas as tuas acusações ou então me demonstres como as fontes que eu apresento são mentirosas, contrapondo com outras fontes tão fidedignas como as minhas.


Valete, Fratres

Apostas Presidenciais 2006 - II

"Como dizes, com razão, eu não chamo a isto sondagens, mas sim vigarizagens. [...] Bem, caros hóspedes...depois de um caso destes, poderemos admitir que estas sondagens sejam fidedignas?"
Podemos, dentro de todas as limitações das condagens, claro. Sem dúvida que o caso que narras e que eu lera já nos jornais é indecente e é uma clara manipulação. Contudo, não posso acreditar que todas as empresas que fizeram sondagens neste período (e não foram poucas) andam a adulterar os resultados. É mais credível que o que descreves seja a excepção do que a norma. E se confiarmos nisto, então as sondagens têm até sido concordantes umas com as outras e podemo-nos relaticvamente basear nelas.

"Opressão, crise, défice! Pois é...o dr. Durão Barroso que está neste momento a saborear um bom cherne em Bruxelas disse ao Eng. Guterres que este deixou o país de tanga, quando o grande impulsionador para o défice, o primeiro-ministro que aumentou o défice para 9% foi Cavaco Silva!"
Tudo isso sucedeu enquanto primeiro-ministro, não enquanto Presidente (cargo para que agora se candidata). Supondo que Cavaco é , como lhe chamou Cadilhe, o "pai do défice": a verdade é que, em Belém, ele não terá de gerir os dinheiros da Nação. Daí que esse argumento seja completamente inútil, a meu ver, nesta discussão.
Para além do mais, esses são os teus dados. Eis o que encontrei num blog, intitulado Grande Loja do Queijo Limiano:

"Em primeiro lugar, parece-me consensual que Portugal experimentou durante uma larga década de um período de crescimento económico bem acima da média comunitária. Pode-se até atribuir uma grande quota parte desse crescimento aos fundos comunitários, mas a verdade é que a partir de 1995, a Espanha coloca-se com o saldo orçamental primário ajustado ao ciclo em terreno positivo e Portugal parte em 1996 para uma escalada que ainda hoje está em terreno negativo. Sabendo que os fundos comunitários não diminuíram de montante em 1996 face ao actual e mesmo face aos anos de governação de Cavaco Silva, como atribuir tal consequência, senão ás más políticas económicas ?Repare-se que quando em 1996, o Eng. Guterres tomou conta dos destinos do país, até um dia o abandonar transformado num pantâno, a economia crescia a taxas vigorosas, o país tinha uma saúde financeira estável, a inflação situava-se nos 3,1 %. Mesmo com este quadro macroeconómico estrutural estável e propício a tomada de medidas estruturais reformantes, aos governos do Eng. Guterres não podem ser pedidas reformas de fundo. Na época dizia-se que se esta a desperdiçar uma oportunidade em tomar medidas de contra-ciclo que serviriam para reformar o país e aproveitar o ciclo ascendente da economia para voltar a estabilizar a mesma. Hoje isso confirma-se.

Neste quadro, temos a evolução do crescimento da despesa pública corrente primária deduzido o efeito da inflação e ajustada ao ciclo económico. De uma forma simplesmente aritmética, entre 1986 e 1995 a despesa pública corrente cresceu em média 3,2 %. Durante 1996 e 2001, o crescimento médio foi de 5,9 %. Finalmente entre 2002 e 2004, os governos de Barroso e Santana Lopes, ficam com um crescimento médio de 3,1 %. Numa coisa a economista Teodora Cardoso não têm razão. Não foram nos governos de Cavaco Silva que se assistiu ao maior crescimento da despesa pública corrente primária. [...] Os governos de Cavaco não estão de todo isentos de erros. Mas parece óbvio a quem deve ser atribuída a responsabilidade do monstro, custe isso o que custar."

Não apresento estes dados para os defender, mas apenas para mostrar que há outros pontos de vista, e a discussão de quem é o pai do défice está longe de ser consensual. O pico no segundo gráfico justificaria a afirmação tantas vezes feita, e que tu invocas também, de que no seu regime a despesa subiu 9%. Contudo, as médias ariteméticas não mentem e mostram que no tempo de Guterres, parece ter sido maior. Relativamente a todo este debate, contudo, defendo que:
1. Trata-se de uma discussão que ocupa em excesso a vida política portuguesa quando ela em nada irá já mudar o futuro - gastasse-se esse tempo a discutir soluções para o défice que constatamos e muito mais proveitoso seria o debate. Invoco aqui a velha história busdista: um homem é atingido por uma flecha venenosa. A primeira pergunta que faz não é "De onde veio a seta?", mas sim "Como posso sarar a ferida e anular o veneno?". A política portuguesa teima em fazer a primeira pergunta.
2. Trata-se de uma discussão mediócre usada pelos partidos como armas de arremesso uns contra os outros. O PSD deverá ter dados semelhantes aos que aqui coloquei só para mostrar que há outras perspectivas sobre o assunto. O PS, por sua vez, há-de ter também os seus dados, que estou certo que poderás obter só para tentar contradizer os "meus", que só são "meus porque eu os apresentei aqui, não porque concorde, saliento. No fundo, e é essa a minha opinião, é impossível determinar quem é o pai do défice sem que se faça uma investigação maciça que demoraria anos. O pai do défice pode ser Guterres (como pretende aquilo que apresentei provar), pode ser Cavaco (como Cadilhe, Soares e tu defendem), pode ser Mário Soares, pode ser Sá-Carneiro/Balsemão! É-me indiferente, porque os dados que são apresentados são tão contraditórios entre si que se torna de todo impossível fazer um juízo independente e lúcido sobre o assunto - razão porque não o tenho

Quanto às suas implicações presidenciais, defendo que:
1. Se Cavaco é o "pai do monstro", Soares é tão responsável como ele, porque "tanto é ladrão o que rouba como o que fica à porta", e sabemos que Soares era Presidente no tempo do governo cavaquista - e não o demitiu. Aliás, tanto gostava Cavaco de Soares na presidência que Cavaco apoiou a segunda candidatura de Soares. Este é o argumento de Garcia Pereira, presentado no seu tempo de Antena. Se de facto o governo de Cavaco foi tão calamitoso, Soares tem responsabilidades por não ter dissolvido a Assembleia, como Sampaio fez com Santana.
2. Independentemente de tudo isto, porque volto a afirmar que para mim a discussão do pai do défice é uma coisa menor, senão mesmo irritante, repito: o Presidente não vai gerir dinheiros públicos por isso esse suposto lado despesista de Cavaco nunca se poderia revelar na presidência.

"Contudo, não apaguei as imagens que vi no governo do prof. Cavaco, em que uma greve perpetuada por trabalhadores de uma fábrica sofreu uma carga da polícia de choque, mandando imensos para o hospital!"
Não eras porém tu que, no teu blog, falavas de uma mão forte para este país? Acredito que não fosse isto que tivesses em mente, mas as palavras podem ser traiçoeiras. E quanto ao episódio em questão, obviamente que ele é uma mancha no passado de Cavaco - daí que seja errada, como eu sempre considerei, esta messificação do candidato. Mas, se fores ver a banda desenhada da candidatura do Louçã, Regresso ao Passado, verás erros que eles encontram no período em que Soares foi primeiro-ministro, como o ter sido ele o responsável - garantem eles - da liberalização dos despedimentos (sei que não é esta a exacta formulação e peço desculpa por esta inexactidão) ou o facto de ter desvalorizado a polémica do aborto. Se eu, que sou contra o aborto, não considero isto exactamente um erro, outros empenhados nessa causa decerto o considerarão. Óbvio que o Cavaco fez foi triste e reprovável. O seu carácter autoritário cabe aos eleitores julgar.

"...que imagem Portugal daria se, numa embaixada, na qual estivesse presente Cavaco Silva, servissem a este senhor um prato de bolo-rei? Iria para lá comê-lo de forma asquerosa, como o fez para a televisão?"
Não respondo a este argumento - considero-o despropositado e falso.

"Manuel Alegre, trata-se da sua política de liberdade e de força...ou chamar-lhe-ei traição? Uma traição à Esquerda Unida contra Cavaco?"
Esquerda Unida? Com cinco candidatos? Ainda que ele não se tivera candidatado, seriam quatro candidatos à esquerda: seria isso união? Se ele não está unido é ao PS, mais isso é já outra história... Mas não estará ele contra Cavaco? Claro que está - apesar de os seus ataques não serem tão viscerais como os de Soares. Parece-me infeliz a observação.


"...o poeta que teima em ser político...mas um poeta nunca pode ser político!"
Ora aqui está uma observação que ainda é mais infeliz que a anterior, porque desmentida por grandes vultos da História. Garrett, o autor do Folhas Caídas, foi ministro; Sophia esteve na Assembleia Constituinte; Natália Correia era deputada. Pablo Neruda, magnífico poeta que recebeu o Prémio Nobel, só não se candidatou à Presidência do Chile porque entretanto o poder foi tomado por Pinochet. É natural que não se compreenda, mas é que o poeta e o sujieot poético são uma mesma entidade, e, ao mesmo tempo, entidades diferentes. Fora este um blog literário e discorreria sobre esse assunto, coisa que um dia ainda hei-de fazer, mas noutro local, noutro tempo.

"eu gostava de saber como é que Alegre é considerado um herói, hoje em dia, tendo sido um homem que fugiu da guerra?"
As seguintes palavras são dum blog chamado Abrangente:
"No meu post de ontem, onde referi o nome de Manuel Alegre, a propósito de
uma visita que este tinha efectuado ao Instituto Superior de Estudos Militares,
escrevi que o candidato "nem sequer tinha cumprido a missão de combatente,
preferindo fugir à guerra", e, por isso, estranhava o desejo de Manuel Alegre vir
a ser comandante-chefe das FA, sendo ele um "desertor"... Ora a verdade é que
Manuel Alegre não desertou da guerra, antes foi preso pela Pide, que o recambiou
para Lisboa, para ser julgado pelos tribunais do fascismo. No entanto, antes que
isso acontecesse, Manuel Alegre conseguiu fugir para fora do país. Esta é a verdade
histórica, segundo conta o João Tunes, em quem eu confio inteiramente, sobretudo
no que respeita a factos da nossa guerra colonial. Faço mea culpa por ter caluniado
Manuel Alegre, ao chamar-lhe desertor... E peço desculpa a quem me lê, por esta
minha falta de rigôr histórico. "

"...ou não terá isso influência pelo seu mandatário da Juventude, Pacman? Pois...uma carta muito bem jogada por Manuel Alegre, chamar o vocalista dos Da Weasel para o ajudar a garantir uma vitória sobre Soares..."
Critico esta escolha tanto como tu. Para o comprovar, cito a minha crónica Lendo os Astros Cá em Baixo, saída a 26 de Outubro de 2005:
"Mas quando até os cultos vultos fazem tão estultos comentários, de Alegre fico triste. «Ele é um ídolo da juventude. A minha filha gosta muito de o escutar». falou assim Manuel, o poeta, de Pacman, o vocalista dos Da Weasel, mandatário para a juventude da sua candidatura presidencial. Referindo-se à versão hip-hop da Trova do Vento que Passa: «Fiquei comovido ao ouvi-lo. E fiquei ainda mais depois de saber que ele nem sequer havia escutado as versões anteriores, interpretadas pelo Adriano e pela Amália.» Não condeno a escolha, condeno o elogio. Condeno a apologia da degenerescência da juventude que tem de encontrar tais ídolos. Condeno que se exulte a ignorância da arte passada. E se Pacman não ouviu as versões cantadas do poema de Alegre, creio eu que Alegre não leu os versos escritos de Pacman. Como reagiria o candidato ante a “arte poética” do hit da banda: «Vou levar-te para casa - tomar conta de ti/ Dar-te um bom banho, vestir-te um pijama e…/Fazer-te uma papinha, meter-te na caminha/ Ler-te uma historinha e deixar-te bem calminha»? Que história cantaram a Alegre, desconheço, mas decerto vai-lhe ser dado um bom banho e ele irá para casa, lamentando o seu despenho."

Penso ter rebatido, pelo menos, por enquanto, os teus argumentos: eis a resposta que pediste.

Saturday, January 14, 2006

Apostas Presidenciais 2006

Cavaco Silva vence à primeira volta. Manuel Alegre fica em segundo lugar, com pelo menos dois pontos de vantagem sobre Mário Soares. Jerónimo de Sousa ultrapassa Francisco Louçã, mas por francamente pouco. Garcia Pereira não chega ao 1%, como normal.

As minhas apostas baseiam-se nos dados que a maioria das sondagens (sim, o outro hóspede do Hotel vai já chamr-lhes "vigarizagens") têm veiculado e no que tenho retirado da cobertura das campanhas dos candidatos e de conversas com amigos meus. Opinião dos críticos tem também influência nas minhas apostas. Assim, perante todas estas fontes penso que se torna perceptível a vitória de Cavaco que prevejo à primeira volta, não obstante as últimas indicações darem uma certa descida. Os pontos perdidos por Cavaco estão no entanto a ir não para Soares, mas para Alegre, facto que, se a ele acrescentarmos o feedback das conversas com jovens eleitores e as mais recentes sondagens, justifica a sua posição como segundo. A convicção de que Jerónimo só por pouco superar Louçã deve-se à crescente tendência de crescimento do Bloco de Esquerda, sempre na peugada do comunista.

Espero agora ansiosamente as apostas (apostas - não desejos!) do outro hóspede deste Hotel.

Valete, Fratres

Quem Tem Medo Da Democracia?

Falando hoje com o outro hóspede do Hotel, ele incentivou-me a ver os Tempos de Antena. Só pude apanhar os de Luçã, Jerónimo e Garcia Pereira na RTP1. O deste último era, contudo, de longe o mais realista, e aquele que ainda se assemelhava mais a um tempo de antena de alguém que se candidata a Presidente do que a Primeiro-Ministro. A resolução expressa por Garcia de que, a ser presidente, demitiria o Governo, entusiasmou-me, pois, concordando ou não com essa atitude, demonstra que estamos perante alguém que não hesita em dizer o que pensa e em actuar em concordância com isso. Resolvi ir ao site da sua candidatura e li o seu Manifesto, entitulado Quem Tem Medo Da Democracia?, um magnífico texto que eu era capaz de reiterar na sua quase totalidade, exceptuando o seu tom, nalguns pontos, demasiado radical, ainda assim portador de uma verdade intrínseca.
Dizer que subscreveria agradavelmente o Manifesto não significa, contudo, que votaria Garcia Pereira: pretendo continuar a explorar a candidatura dele - bem como as outras - para melhor saber o que ele pensa de toda uma outra série de questões. Peço que esta confusão não seja feita.
Se aqui coloco o Manifesto é:
1. para discutirmos esta candidatura;
2. para discutirmos as ideias presentes no texto, ideias fortes, mas, a meu ver, muito acertadas;
3. para dar uma voz à candidatura de um cidadão que repetidamente foi ignorado pela comunicação social durante a pré-campanha (na campanha propriamente dita a situação inverteu-se razoavelmente). Como dizia no site de campanha, e cito:

"Este é o texto integral da apresentação – na passada 2ª feira, dia 12/9, na Casa do Alentejo – da candidatura de Garcia Pereira às eleições presidenciais, e que foi censurado pela grande maioria dos orgãos da Comunicação Social, com as televisões à cabeça.

Se acha que todos os candidatos devem ter iguais oportunidades para expressar os seus pontos de vista, e se também entende que em Democracia não há candidatos "de 1ª" e "de 2ª" pelo que são inaceitáveis quaisquer actos de (mesmo que encoberta) censura, então comece já a comece já a combatê-la, dando a máxima divulgação ao texto censurado, não porque tenha de com ele concordar integralmente, mas sim porque considera que todos os pontos de vista devem ter direito a poderem expressar-se !"

http://www.garciapereira-presidenciais2006.net/
Vale a pena ler: um texto contra o "
escarro quotidiano nas nossas inteligências."


Valete, Fratres

Friday, January 13, 2006

Auto-retrato a Pixéis

Por erro do próprio site, é-me impossível repetir, como era meu propósito, a Bússola Política disponibilizada online pelo Público, pelo que os resultados finais da mesma que se seguem datam da última vez que a fiz, dia 17 de Junho 2005.

Resultado:
Esquerda / Direita: -7.25
Autoritarismo / Libertarianismo: -3.90

Para os não familiarizados, os resultados negativos no eixo do x simbolizam inclinação à esquerda; resultados negativos no eixo do y simbolizam tendências liberais.

Posto isto, ante ti, que lês, me pinto politicamente:
Independente e radical - serão talvez as palavras que melhor me definem. Com laivos de anarquista, em grande medida herdados da utópica sociedade apresentada em Fight Club, com um imaginário preenchido pelas revoltas estundantis dos anos 60 e os movimentos de afirmação juvenil como os hippies, influenciado fortemente pelas concepções anárquico-pacifistas de Tolstoi e Gandhi: eis-me ante ti. Agnóstico da globalização, descreio do comunismo, do capitalismo e do autoritarismo - em que creio nem eu próprio sei bem. Sobre a sociedade moderna, a minha visão não mais seria a mesma depois de ler as páginas 100 a 105 do livro O Totalitarismo, de Claude Polin. Filosoficamente, sou um céptico moderado, um amador do saber (não é isso que significa filósofo?) que cogita, ainda com pensamentos muito titubeantes. O Mestre, nessa área, é Platão. A Berkely e Hume devo as minhas tendências solipsistas. De Nietzsche, bebo a poesia. Fascinado pela Grécia Antiga, a ela retorno continuamente.
Poeta, ou fazedor de versos; escritor, a minha maior influência são as tragédias gregas, que tiveram a sua sublime continuação em Hamlet, de Shakespeare. Apaixonado, na nossa língua, por Pessoa - esse colosso! - e o seu "imperador da Língua Portuguesa": o Padre António Vieira. O meu mestre é, contudo, Tolstoi, não negando a Swift, com a sua mordaz sátira, e a Melville, com a sua obra-prima do mundo e da sua pena, o lugar que têm no meu panteão. Filosoficamente, não posso deixar de referir o meu iniciador nessa disciplina do pensar: Jostein Gaarder. Sou também apreciador confesso de Hugo Pratt e o seu Corto Maltese.
Sou um apaixonado do cinema, aberto ao cinema de autor no último ano. Tanto amo a sétima arte que deliro mesmo em ser realizador, se bem que as clássicas (e essa paixão pela Grécia Antiga, como Sophia a tinha, cravada na alma) também me atraem como Circe. No cinema, o Grande Génio, o «Pequeno Cavaleiro», é Lars von Trier. O criador do Belo, Francis Ford Coppola. O Mago da Filadélfia, M. Night Shyamalan. O inigualável Spielberg, com a obra de arte da Lista de Schindler. Fincher, com o seu estilo marcado e único e macabro, ou Kubrick, com a sua visão distópica da Laranja Mecânica. Aqueles que souberem ler correctamente esta lista, decerto descobrirarão muito sobre a minha personalidade.
Na música, a luz que brilha, nascido no mesmo dia que eu, é Beethoven. No mundo dos clássicos, oiça-se ainda Bach e Wagner. A continuação dos clássicos são as bandas sonoras, ouvidas sem cessar por mim, nomeadamente John Williams, pela América, Yann Tiersen, pela Europa, e Joe Hisaishi, pela Ásia. De resto, preenchem-me os dias os irlandeses The Corrs, e todas as sonoridades góticas, nomeadamente no âmbito do metal, com destaque para Theatre Of Tragedy, os velhos, até 1999.
Escrevi já demais - como escrevo quinzenalmente para o Jornal Da Mealhada, a minha cidade, sob o nome de O Corvo - homenagem a Poe, esse mestre que um esquecimento breve tirou de junto do panteão que há pouco referi. Convido agora o João a apresentar-se também: como membro do blog, escusa de o fazer num comentário escondido: decerto ele terá muitas surpresas para nós...

Valete, Fratres

Introdução ao Novo Hotel Central



Nevoeiro


Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

Fernando Pessoa, Mensagem