Sunday, January 15, 2006

Apostas Presidenciais 2006 - II

"Como dizes, com razão, eu não chamo a isto sondagens, mas sim vigarizagens. [...] Bem, caros hóspedes...depois de um caso destes, poderemos admitir que estas sondagens sejam fidedignas?"
Podemos, dentro de todas as limitações das condagens, claro. Sem dúvida que o caso que narras e que eu lera já nos jornais é indecente e é uma clara manipulação. Contudo, não posso acreditar que todas as empresas que fizeram sondagens neste período (e não foram poucas) andam a adulterar os resultados. É mais credível que o que descreves seja a excepção do que a norma. E se confiarmos nisto, então as sondagens têm até sido concordantes umas com as outras e podemo-nos relaticvamente basear nelas.

"Opressão, crise, défice! Pois é...o dr. Durão Barroso que está neste momento a saborear um bom cherne em Bruxelas disse ao Eng. Guterres que este deixou o país de tanga, quando o grande impulsionador para o défice, o primeiro-ministro que aumentou o défice para 9% foi Cavaco Silva!"
Tudo isso sucedeu enquanto primeiro-ministro, não enquanto Presidente (cargo para que agora se candidata). Supondo que Cavaco é , como lhe chamou Cadilhe, o "pai do défice": a verdade é que, em Belém, ele não terá de gerir os dinheiros da Nação. Daí que esse argumento seja completamente inútil, a meu ver, nesta discussão.
Para além do mais, esses são os teus dados. Eis o que encontrei num blog, intitulado Grande Loja do Queijo Limiano:

"Em primeiro lugar, parece-me consensual que Portugal experimentou durante uma larga década de um período de crescimento económico bem acima da média comunitária. Pode-se até atribuir uma grande quota parte desse crescimento aos fundos comunitários, mas a verdade é que a partir de 1995, a Espanha coloca-se com o saldo orçamental primário ajustado ao ciclo em terreno positivo e Portugal parte em 1996 para uma escalada que ainda hoje está em terreno negativo. Sabendo que os fundos comunitários não diminuíram de montante em 1996 face ao actual e mesmo face aos anos de governação de Cavaco Silva, como atribuir tal consequência, senão ás más políticas económicas ?Repare-se que quando em 1996, o Eng. Guterres tomou conta dos destinos do país, até um dia o abandonar transformado num pantâno, a economia crescia a taxas vigorosas, o país tinha uma saúde financeira estável, a inflação situava-se nos 3,1 %. Mesmo com este quadro macroeconómico estrutural estável e propício a tomada de medidas estruturais reformantes, aos governos do Eng. Guterres não podem ser pedidas reformas de fundo. Na época dizia-se que se esta a desperdiçar uma oportunidade em tomar medidas de contra-ciclo que serviriam para reformar o país e aproveitar o ciclo ascendente da economia para voltar a estabilizar a mesma. Hoje isso confirma-se.

Neste quadro, temos a evolução do crescimento da despesa pública corrente primária deduzido o efeito da inflação e ajustada ao ciclo económico. De uma forma simplesmente aritmética, entre 1986 e 1995 a despesa pública corrente cresceu em média 3,2 %. Durante 1996 e 2001, o crescimento médio foi de 5,9 %. Finalmente entre 2002 e 2004, os governos de Barroso e Santana Lopes, ficam com um crescimento médio de 3,1 %. Numa coisa a economista Teodora Cardoso não têm razão. Não foram nos governos de Cavaco Silva que se assistiu ao maior crescimento da despesa pública corrente primária. [...] Os governos de Cavaco não estão de todo isentos de erros. Mas parece óbvio a quem deve ser atribuída a responsabilidade do monstro, custe isso o que custar."

Não apresento estes dados para os defender, mas apenas para mostrar que há outros pontos de vista, e a discussão de quem é o pai do défice está longe de ser consensual. O pico no segundo gráfico justificaria a afirmação tantas vezes feita, e que tu invocas também, de que no seu regime a despesa subiu 9%. Contudo, as médias ariteméticas não mentem e mostram que no tempo de Guterres, parece ter sido maior. Relativamente a todo este debate, contudo, defendo que:
1. Trata-se de uma discussão que ocupa em excesso a vida política portuguesa quando ela em nada irá já mudar o futuro - gastasse-se esse tempo a discutir soluções para o défice que constatamos e muito mais proveitoso seria o debate. Invoco aqui a velha história busdista: um homem é atingido por uma flecha venenosa. A primeira pergunta que faz não é "De onde veio a seta?", mas sim "Como posso sarar a ferida e anular o veneno?". A política portuguesa teima em fazer a primeira pergunta.
2. Trata-se de uma discussão mediócre usada pelos partidos como armas de arremesso uns contra os outros. O PSD deverá ter dados semelhantes aos que aqui coloquei só para mostrar que há outras perspectivas sobre o assunto. O PS, por sua vez, há-de ter também os seus dados, que estou certo que poderás obter só para tentar contradizer os "meus", que só são "meus porque eu os apresentei aqui, não porque concorde, saliento. No fundo, e é essa a minha opinião, é impossível determinar quem é o pai do défice sem que se faça uma investigação maciça que demoraria anos. O pai do défice pode ser Guterres (como pretende aquilo que apresentei provar), pode ser Cavaco (como Cadilhe, Soares e tu defendem), pode ser Mário Soares, pode ser Sá-Carneiro/Balsemão! É-me indiferente, porque os dados que são apresentados são tão contraditórios entre si que se torna de todo impossível fazer um juízo independente e lúcido sobre o assunto - razão porque não o tenho

Quanto às suas implicações presidenciais, defendo que:
1. Se Cavaco é o "pai do monstro", Soares é tão responsável como ele, porque "tanto é ladrão o que rouba como o que fica à porta", e sabemos que Soares era Presidente no tempo do governo cavaquista - e não o demitiu. Aliás, tanto gostava Cavaco de Soares na presidência que Cavaco apoiou a segunda candidatura de Soares. Este é o argumento de Garcia Pereira, presentado no seu tempo de Antena. Se de facto o governo de Cavaco foi tão calamitoso, Soares tem responsabilidades por não ter dissolvido a Assembleia, como Sampaio fez com Santana.
2. Independentemente de tudo isto, porque volto a afirmar que para mim a discussão do pai do défice é uma coisa menor, senão mesmo irritante, repito: o Presidente não vai gerir dinheiros públicos por isso esse suposto lado despesista de Cavaco nunca se poderia revelar na presidência.

"Contudo, não apaguei as imagens que vi no governo do prof. Cavaco, em que uma greve perpetuada por trabalhadores de uma fábrica sofreu uma carga da polícia de choque, mandando imensos para o hospital!"
Não eras porém tu que, no teu blog, falavas de uma mão forte para este país? Acredito que não fosse isto que tivesses em mente, mas as palavras podem ser traiçoeiras. E quanto ao episódio em questão, obviamente que ele é uma mancha no passado de Cavaco - daí que seja errada, como eu sempre considerei, esta messificação do candidato. Mas, se fores ver a banda desenhada da candidatura do Louçã, Regresso ao Passado, verás erros que eles encontram no período em que Soares foi primeiro-ministro, como o ter sido ele o responsável - garantem eles - da liberalização dos despedimentos (sei que não é esta a exacta formulação e peço desculpa por esta inexactidão) ou o facto de ter desvalorizado a polémica do aborto. Se eu, que sou contra o aborto, não considero isto exactamente um erro, outros empenhados nessa causa decerto o considerarão. Óbvio que o Cavaco fez foi triste e reprovável. O seu carácter autoritário cabe aos eleitores julgar.

"...que imagem Portugal daria se, numa embaixada, na qual estivesse presente Cavaco Silva, servissem a este senhor um prato de bolo-rei? Iria para lá comê-lo de forma asquerosa, como o fez para a televisão?"
Não respondo a este argumento - considero-o despropositado e falso.

"Manuel Alegre, trata-se da sua política de liberdade e de força...ou chamar-lhe-ei traição? Uma traição à Esquerda Unida contra Cavaco?"
Esquerda Unida? Com cinco candidatos? Ainda que ele não se tivera candidatado, seriam quatro candidatos à esquerda: seria isso união? Se ele não está unido é ao PS, mais isso é já outra história... Mas não estará ele contra Cavaco? Claro que está - apesar de os seus ataques não serem tão viscerais como os de Soares. Parece-me infeliz a observação.


"...o poeta que teima em ser político...mas um poeta nunca pode ser político!"
Ora aqui está uma observação que ainda é mais infeliz que a anterior, porque desmentida por grandes vultos da História. Garrett, o autor do Folhas Caídas, foi ministro; Sophia esteve na Assembleia Constituinte; Natália Correia era deputada. Pablo Neruda, magnífico poeta que recebeu o Prémio Nobel, só não se candidatou à Presidência do Chile porque entretanto o poder foi tomado por Pinochet. É natural que não se compreenda, mas é que o poeta e o sujieot poético são uma mesma entidade, e, ao mesmo tempo, entidades diferentes. Fora este um blog literário e discorreria sobre esse assunto, coisa que um dia ainda hei-de fazer, mas noutro local, noutro tempo.

"eu gostava de saber como é que Alegre é considerado um herói, hoje em dia, tendo sido um homem que fugiu da guerra?"
As seguintes palavras são dum blog chamado Abrangente:
"No meu post de ontem, onde referi o nome de Manuel Alegre, a propósito de
uma visita que este tinha efectuado ao Instituto Superior de Estudos Militares,
escrevi que o candidato "nem sequer tinha cumprido a missão de combatente,
preferindo fugir à guerra", e, por isso, estranhava o desejo de Manuel Alegre vir
a ser comandante-chefe das FA, sendo ele um "desertor"... Ora a verdade é que
Manuel Alegre não desertou da guerra, antes foi preso pela Pide, que o recambiou
para Lisboa, para ser julgado pelos tribunais do fascismo. No entanto, antes que
isso acontecesse, Manuel Alegre conseguiu fugir para fora do país. Esta é a verdade
histórica, segundo conta o João Tunes, em quem eu confio inteiramente, sobretudo
no que respeita a factos da nossa guerra colonial. Faço mea culpa por ter caluniado
Manuel Alegre, ao chamar-lhe desertor... E peço desculpa a quem me lê, por esta
minha falta de rigôr histórico. "

"...ou não terá isso influência pelo seu mandatário da Juventude, Pacman? Pois...uma carta muito bem jogada por Manuel Alegre, chamar o vocalista dos Da Weasel para o ajudar a garantir uma vitória sobre Soares..."
Critico esta escolha tanto como tu. Para o comprovar, cito a minha crónica Lendo os Astros Cá em Baixo, saída a 26 de Outubro de 2005:
"Mas quando até os cultos vultos fazem tão estultos comentários, de Alegre fico triste. «Ele é um ídolo da juventude. A minha filha gosta muito de o escutar». falou assim Manuel, o poeta, de Pacman, o vocalista dos Da Weasel, mandatário para a juventude da sua candidatura presidencial. Referindo-se à versão hip-hop da Trova do Vento que Passa: «Fiquei comovido ao ouvi-lo. E fiquei ainda mais depois de saber que ele nem sequer havia escutado as versões anteriores, interpretadas pelo Adriano e pela Amália.» Não condeno a escolha, condeno o elogio. Condeno a apologia da degenerescência da juventude que tem de encontrar tais ídolos. Condeno que se exulte a ignorância da arte passada. E se Pacman não ouviu as versões cantadas do poema de Alegre, creio eu que Alegre não leu os versos escritos de Pacman. Como reagiria o candidato ante a “arte poética” do hit da banda: «Vou levar-te para casa - tomar conta de ti/ Dar-te um bom banho, vestir-te um pijama e…/Fazer-te uma papinha, meter-te na caminha/ Ler-te uma historinha e deixar-te bem calminha»? Que história cantaram a Alegre, desconheço, mas decerto vai-lhe ser dado um bom banho e ele irá para casa, lamentando o seu despenho."

Penso ter rebatido, pelo menos, por enquanto, os teus argumentos: eis a resposta que pediste.

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